Mistérios Femininos
A Wicca é, entre outras coisas, essencialmente um culto lunar no qual residem os Mistérios Femininos da Antiga Europa. Esses Mistérios podem ser divididos em três categorias principais: os Mistérios das Tríades, os Mistérios do Sangue e os Mistérios Obscuros. Cada um deles contém em si outros aspectos relativos dos mitos associados nos quais residem.
A Tradição dos Mistérios Femininos surgiu do fato de que as mulheres primitivas viam a si mesmas como um mistério. Havia uma necessidade natural de compreender coisas como o sangue menstrual, a gravidez e o parto. Esses elementos separavam claramente as mulheres dos homens, cujos corpos não apresentavam tais poderes. Para os humanos primitivos, certamente havia uma força mágica em ação, e aparentemente ela só atuava sobre as mulheres do clã. Tal mentalidade resultou na elevação do status das mulheres e estabeleceu um sentimento de reverencia entre os homens. Os mistérios femininos consistiam principalmente de ritos de fertilidade que envolviam o clã como um todo, dessas estruturas surgiram regras acerca das relações sexuais e da menstruação. As mulheres foram as primeiras a perceber a ligação entre o ato sexual e a concepção. As iniciadas aprendiam como evitar a concepção juntamente com os segredos da magia do amor.
Os Mistérios das Tríades Femininas são compostos dos seguintes aspectos: Preservação, Formação e Transformação. Estes se relacionam aos mistérios mundanos segundo os quais as mulheres tradicionalmente exercem domínio sobre o lar, a mesa e a cama. Em tempos longínquos, os símbolos do poder de uma mulher estavam ligados a essas facetas da vida humana. A vassoura, o caldeirão, a lareira e o travesseiro eram símbolos de seu reinado domestico. Em tempos antigos, as mulheres eram honradas por seu dom de alimentar a família. O lar era um local de estabilidade e tranqüilidade. As mulheres controlavam, direta ou indiretamente, todas as facetas da vida familiar e exerciam papel vital na comunidade.
Nos Mistérios da Formação, a estrutura social era matrilinear. Somente após o homem tomar ciência a respeito da procriação foi que esse sistema começou a se alterar. Entretanto, em algumas partes do mundo atual, como na África e alguns lugares da América do Sul, as sociedades matrilineares – ou que resta delas – ainda existem.
Desse essencial papel das mulheres surgiram as tradições internas associadas a suas necessidades privadas e pessoais. O sistema de tabu foi originalmente criado pelas mulheres para se abster das exigências/necessidades da comunidade e então concentrar-se nos mistérios que as afligiam: menstruação, gravidez e parto.
Os Mistérios do Sangue associam-se aos ensinamentos e ritos ligados à menstruação, ao renascimento dentro do mesmo clã, magia sexual e ressurgência atavística (Reaparição em ascendentes, de caracteres advindos de ascendentes remotos). Todos são conceitos extremamente antigos, que se originaram ao menos na era neolítica. Esses mistérios são em sua maior parte exclusivos às mulheres e serviam para elevá-las na antiga estrutura dos clãs. O poder inerente a esses mistérios levava os homens a uma posição de anuência dentro dos primitivos cultos matrifocais. O fluxo de sangue e seu cessar estão ambos intimamente ligados aos mistérios femininos. Menstruação, gravidez, parto e menopausa são aspectos do ciclo vital de todas as mulheres. O sangue ou sua ausência, assinala naturalmente os estágios de transformação de uma mulher desde a ruptura do hímem ao fim dos sangramentos na menopausa. Em tempos remotos, o modo como uma mulher usava sua guirlanda era um sinal externo de qual estagio da vida ela já havia alcançado.
Nos ensinamentos misteriosos, vemos que o sangue menstrual era mais do que o indicador da fertilidade de uma mulher. A vagina era vista como um portal mágico através do qual a vida surgia de uma misteriosa fonte interna. Na religião matrifocal, era um portal tanto para a regeneração física como para a transformação espiritual. As mulheres estão mais sintonizadas à sua natureza psíquica durante a menstruação. Uma vez que o fluxo de sangue menstrual tende a absorver a energia astral, as mulheres estão mais aptas para curar os outros durante a menstruação.
O sangue era também utilizado para fertilizar as sementes para o plantio, passando a essência da vida a elas. Campos eram por vezes borrifados com uma mistura de água e sangue menstrual para estimular o crescimento.
Outra função do sangue era a de ungir os mortos. Acredita-se que isso asseguraria seu renascimento, graças as propriedades vitalizantes do sangue que jorrava do próprio portal da vida.
Nos ensinamentos misteriosos, a magia de sangue está ligada às fases da Lua. A lua cheia inicia a ovulação e simboliza os poderes de transformação da energia lunar (e, por conseqüência, da energia feminina). Por seu aspecto fértil no ciclo de uma mulher, a lua cheia é o período da mãe. Durante essa fase, é melhor formular e visualizar o que quer que seja desejável na vida de um individuo. As imagens mágicas lançam raízes durante essa fase, e o sangue é carregado com quaisquer formas de pensamento que direcionemos a ele. A lua minguante põe em movimento o que foi concebido durante a lua cheia, para que se manifeste. É um período para estabelecer as conexões com mundo físico que irão auxiliar o fluxo da energia relacionada rumo aos desejos do individuo. A lua nova liberta o sangue carregado do caldeirão mágico do ventre. A energia mágica é então gasta e é tempo para reflexão e introspecção. A lua crescente é um período de potencialização, um período para leituras e estudos, preparando o solo fértil do ventre para a semente mágica que será plantada na lua cheia.
Os Mistérios Obscuros envolvem elementos de natureza oculta. Sob essa categoria temos coisas como magia lunar, o culto de Diana, Hécate e Perséfone, morte e renascimento, magia astral, magia dos sonhos e geralmente elementos “do Outro Mundo”. Esse é um dos mais perigosos, e talvez mais poderosos, aspectos dos mistérios. Sem duvida, o poder pessoal resultante do domínio dessa tradição é a base do medo em relação às bruxas durante o período da Inquisão.
Os Mistérios Obscuros estão relacionados a diversas criaturas comumente associada as bruxas e magia de modo geral. O porco era um animal sacrificado a Deméter e também surge em mitos ligados à bruxa grega Circe. Em tempos remotos, acredita-se que o sangue de porco era o mais puro entre todos os animais e que tinha o poder de purificar a alma, eliminando o ódio e o mal. Era associado ao Culto aos Mortos, e muitos locais de sepultamento incluíam porcos ofertados às deidades do Submundo. Outra criatura associada a esses mistérios é a rã, as secreções de certas rãs contem bufotenina, poderoso psicotrópico alucinógeno. Suas secreções eram utilizadas no preparo de certas poções empregadas na indução a estados de transe e viagens astrais. Certos cogumelos, também eram empregados com as secreções de rãs. Por mais desagradável que possa parecer às sensibilidades modernas, os antigos descobriram que as propriedades alucinógenas dos cogumelos ficavam altamente concentradas na urina de quem os consumisse. Por estranho que pareça, esse foi o inicio dos ensinamentos misteriosos da destilação e fermentação.
Nestes mistérios, a Deusa pode surgir como Aquela que traz a Vida e a Morte, a Criadora e a Destruidora. Ela cria tempestades, chuva e orvalho, os quais podem ser tanto benéficos quanto destrutivos, especialmente para comunidades agrícolas. Do mesmo modo como a Deusa envia a água, ela também envia o fluxo sangue menstrual. A Lua rege as marés da Terra, bem como as mulheres. Líquidos sempre foram símbolos da presença mística da Deusa. Seus santuários eram estabelecidos em grutas onde a água jorrava dentre as pedras. Cerimônias envolvendo a coleta e o derramamento de água são comuns em Seus ritos, onde jarros com bicos fálicos eram utilizados em Seu serviço.
Um dos aspectos da Antiga Religião era o de objetos serem abençoados através do contato ou da inserção na vagina de uma mulher nua deitada sobre o altar. Essa antiga pratica foi posteriormente dessacralizada por praticas satanistas. No entanto, de um ponto de vista oculto, o que é dessacralização para uma perspectiva pode ser a consagração ou a transformação por outra.
Texto extraido do livro: Mistérios Wiccanos de Raven Grimassi